Com Allied Assault e suas duas expansões, clones como Call of Duty e os infindáveis jogos baseados no Vietnã lançados em um intervalo de poucos anos, o estilo de guerra em primeira pessoa não tem mais tantos recursos para impressionar os jogadores.
Medal of Honor: Pacific Assault, o segundo da série Medal of Honor para o PC, até que tenta não cair tanto na mesmice. A equipe de desenvolvimento é nova, o sistema gráfico foi feito pela própria EA, e não mais é baseado na tecnologia de Quake 3, o sistema de física Havoc é usado discretamente, o aspecto cinemático foi ampliado e os confrontos agora são ambientados em cenários baseados nas campanhas do pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial.
Nas primeiras horas de jogo, o resultado é até surpreendente, mas não demora para que a repetição, linearidade e outros probleminhas surjam para tirar um pouco do brilho deste bem intencionado MOH.
Começo explosivo:
A história fala de um soldado comum chamado Tommy Conlin, que acabara de se juntar ao corpo de Marines norte-americanos. Depois de conhecer alguns soldados, que o acompanharão mais tarde na jogatina, e passar por intensos treinamentos (no jogo servem como tutorial para aprender os comandos básicos de movimentação e tiro), Conlin é designado para integrar os pelotões que servem na base naval instalada no porto de Pearl – que, até o final do século XIX, era usado pelos havaianos para a produção de pérolas. Nosso destemido e azarado combatente chega ao local exatamente na manhã do dia 7 de dezembro de 1941, poucos minutos antes dos alarmes anti-aéreos anunciarem o início do ataque surpresa japonês.
Sem tempo de conhecer seus novos companheiros e ao meio de intensos bombardeios, Conlin é obrigado a se virar para sobreviver, tentando ainda salvar alguns aliados e acabar com a raça de alguns nipônicos. Neste momento, assumimos o comando do soldado e já percebemos que Pacific Assault é um jogo bem mais grandioso que o último Medal of Honor do PC. Pelo menos, neste início..
Como uma mega produção holywoodiana, as primeiras missões de PA causam até um certo espanto pela grandiosidade, com muitos aviões rasgando os céus, explosões acontecendo por todos os lados, destróieres partindo ao meio, edifícios sendo arruinados e milhares de soldados voando por todos lados e caindo na água. Os objetivos aqui são bem variados e interessantes, como fugir dos ataques, resgatar pessoas em um navio em chamas e combater os aviões com as metralhadoras anti-aéreas de um barco em movimento. E os scripts, tecnicamente perfeitos, escondem com precisão a linearidade da jogabilidade.
Esse clima único e bem coerente com o que deve ter ocorrido naquele dia fatídico nos dá uma impressão inicial de que Pacific Assault realmente é uma continuação digna de um dos melhores jogos de tiro em primeira pessoa já lançados. Entretanto, nas fases seguintes, ele não consegue manter o nível de qualidade e alguns defeitos aparecem.
Mato, japoneses e só:
Saindo de Pearl Harbor e entrando nas florestas do pacífico, onde grande parte da jogatina acontecerá, PA perde um pouco da sua intensidade e do seu aspecto grandioso. Apesar de continuar visualmente bacana, não existe muita variedade de cenários e aquela sensação de uma verdadeira guerra, com muita coisa acontecendo ao nosso redor simultaneamente, é substituída pela tranqüilidade e silêncio das matas.
Nossos antigos amigos do campo de treinamento estão de volta para formar um pequeno grupo de ação com Conlin, e agora passam a receber ordens dele através do novo sistema de comandos, que é um pouco limitado e não é dos mais eficazes que existem. Primeiro porque podemos utilizá-los apenas em alguns determinados momentos e depois porque nem sempre eles surtem o efeito desejado, uma vez que inteligência artificial aliada tende mais a seguir certos scripts do que realmente a obedecer as nossas solicitações. De qualquer forma, esta não deixa de ser uma adição interessante ao jogo.
A inteligência artificial inimiga é dotada de muitos pontos fortes, mas tem suas fraquezas. À distância, os soldados japoneses mostram que são bem espertos e têm diversos tipos de reações, como ficar parado atirando, buscar as metralhadoras fixas, procurar abrigo, se jogar no chão, vir correndo em nossa direção como kamikazes e até tentar dar a volta para nos pegar por trás (no bom sentido). Eles também têm uma pontaria exemplar e se movimentam com esperteza, sendo capazes de sair do raio de explosão de uma granada. De perto, as reações variam: Alguns são bem agressivos e nos atacam sem parar com suas baionetas, enquanto outros ficam meio sem reação e se tornam presas muito fáceis.
A jogabilidade também apresenta alguns poucos problemas de repetição e balanceamento. Primeiro porque o jogo entra em uma rotina na qual devemos avançar, parar para matar inimigos e voltar a avançar novamente, e esta é agravada pela pouca variedade dos cenários e pelo desenvolvimento muito linear, com apenas um caminho a seguir (e que geralmente é um pouco estreito). Segundo porque algumas missões se tornam difíceis demais de uma hora pra outra, acrescentando um fator frustração ao pacote.
Tecnicamente jóia:
De uma maneira geral, a apresentação de Pacific Assault é bem melhor que a do seu predecessor, o Allied Assault. Seu novo sistema gráfico, apesar de apresentar os probleminhas de AI, se mostrou bem melhor que aquele utilizado em 2002, que era baseado na tecnologia Quake 3. Os gráficos, texturas e efeitos, que já eram bons, ficaram ainda melhores e chegam a impressionar nos momentos iniciais da jogatina.
A qualidade sonora também acompanha a visual, com sons muito realistas e estampidos de rifles ensurdecedores. Na batalha em Pearl Harbor, os barulhos das explosões, metralhadoras e aviões passando são incessantes.
As dublagens dos personagens também melhorou e adição dos filmes gerados em tempo real com CGs e FMVs ajudam conectar a história entre as missões, imergindo mais o jogador nos acontecimentos reais da guerra.
O multiplayer também é bom, mas não tem nada de realmente inovador ou que mereça uma atenção maior. O destaque fica para o modo Invader, no qual dois times se enfrentam e devem completar objetivos diferentes. Neste modo, que é baseado em classes de soldados, sempre um time ataca enquanto o outro defende.
No início, Medal of Honor: Pacific Assault mostra que tem tudo para ser um perfeito sucessor do soberbo Allied Assault, com muita intensidade, grandiosidade, um visual excelente e um clima da segunda guerra mundial único. Entretanto, nas missões mais avançadas, ele diminui o ritmo, apresenta alguns probleminhas e cai na mesmice, tornando-se apenas mais um dos bons jogos de tiro em primeira pessoa atualmente disponíveis para PC.